Em todos os males que nos
acontecem, olhamos mais para a intenção do que para o efeito. Uma telha que cai
de um telhado pode ferir-nos mais, mas não nos desola tanto como uma pedra
atirada de propósito por uma mão maldosa. O golpe, por vezes, falha mas a intenção
nunca erra o alvo. A dor física é a que menos se sente nos ataques da sorte e,
quando os infortunados não sabem a quem culpar pelas suas infelicidades, culpam
o destino, que personificam e ao qual atribuem olhos e uma inteligência
disposta a atormentá-los intencionalmente.
É o caso de um jogador que,
irritado com as suas perdas, se enfurece sem saber contra quem. Imagina que a
sorte se encarniça intencionalmente para o atormentar e, encontrando alimento
para a sua cólera, excita-se e enfurece-se contra um inimigo que ele próprio
criou. O homem sábio, que em todas as infelicidades que lhe acontecem só vê
golpes da fatalidade cega, não tem essas agitações insensatas; grita na sua
dor, mas sem exaltação, sem cólera; do mal que o atinge só sente os ataques
materiais, e os golpes que recebe podem ferir a sua pessoa, mas nenhum atinge o
seu coração.
Jean-Jacques Rousseau
Retirado de in 'Os Devaneios do Caminhante Solitário'
Sem dúvida que a intenção pode doer mais que o facto em si
ResponderExcluirBom e feliz Domingo.
*******
http://pensamentosedevaneiosdoaguialivre.blogspot.pt/