segunda-feira, dezembro 20, 2010

PADRE EDILBERTO SENA


Edilberto Francisco Moura Sena é educador e comunicador popular, ordenado sacerdote há 40 anos, na Diocese de Santarém, no oeste do Pará. Nasceu na então Vila de Belterra – atualmente município –, onde Henry Ford, na década de 1930, fez experimento do cultivo da seringueira para a exportação do látex bruto da Amazônia para a indústria automobilística.

A compreensão de como este missionário tem contribuído para a conservação ambiental no Brasil e de suas principais realizações depende de uma visão humanística e de uma ética universal que considere a importância do meio ambiente para a humanidade, e o papel da Amazônia nesse contexto.

A tomada de consciência da importância da Região Amazônica para o Amazônida e dos modelos predatórios de desenvolvimento “trazidos para a região” fez com que o missionário Edilberto Sena, por meio do engajamento e mobilização social, dedicasse sua vida à luta pela conservação da floresta e da cultura local.

Insatisfeito com os atos de “destruição e saqueamento” dos recursos naturais da Amazônia, justificados pela propaganda enganosa do progresso econômico para a região e praticados especialmente por “pessoas de fora”, Pe. Edilberto (como é conhecido) intensifica sua luta pela região no Grupo de Defesa da Amazônia – GDA –, em 1980. Este grupo foi um movimento social – hoje, uma ONG – criado para a defesa de um modelo de desenvolvimento “sustentável” para a Amazônia, mas realizável pelos próprios amazônidas. Com este grupo, Pe. Edilberto esteve – e continua – à frente de inúmeros eventos de manifestação pública e de formação de lideranças nas questões relacionadas ao meio ambiente amazônico, advogando que só é possível falar em progresso para a região, se os protagonistas desse progresso forem os próprios amazônidas.

Com esse propósito, ele foi membro fundador, em 1983, de uma organização não governamental que presta assistência agrícola a pequenos produtores da região, o Centro de Apoio aos Projetos de Ação Comunitária – CEAPAC. Desde a sua fundação, centenas de comunidades foram beneficiadas por essa ONG nas áreas do Agroextrativismo, do Associativismo, das Técnicas Agro-ecológicas de Produção, bem como na área de Formação com Base na Pedagogia da Alternância, junto ao programa da Casa Familiar Rural – CFR. Atualmente, 23 comunidades são beneficiadas diretamente pelo CEAPAC. Os comunitários são capacitados nas áreas referidas acima, adaptando novas tecnologias para a sua produção. A “roça sem fogo”; “diversificação da produção”; “manutenção e maior aproveitamento dos recursos naturais” são exemplos dos resultados obtidos. Além disso, a maior compreensão da organização como fator de desenvolvimento local e o despertar para o empreendedorismo por parte dos comunitários são outros impactos positivos alcançados pela instituição.

O CEAPAC é apenas uma das várias associações comunitárias que foram fundadas com influência direta ou indireta do Pe. Edilberto. Nessa linha de atuação, em movimentos sociais, ele tem se destacado no cenário local, regional, nacional e até internacional, como defensor dos direitos humanos e ambientais dos amazônidas. É manchete em vários jornais impressos, radiofônicos ou televisivos (ver anexo A), tendo conquistado inclusive os Prêmios José Carlos de Castro de Direito Humanos, conferido pela Ordem dos Advogados do Brasil – Seção Pará, em 2005, e o Prêmio Internacional Mahatma Gandhi, em 2006, na Índia, concedido pela organização Navdania, cuja líder é a cientista Dra. Vandana Shiva (ver anexo B). Também já concedeu entrevistas a emissoras de televisão de outros países por seu destaque na luta em defesa do meio ambiente, em especial da Amazônia.

A conquista desses prêmios se deve, especialmente, ao papel que este missionário desempenha na atual conjuntura do Oeste do Pará. Em 2003, juntamente com a Federação das Associações de Moradores de Santarém, a Diocese de Santarém, Ordem dos Advogados do Brasil em Santarém, o CEAPAC, o GDA, e outras organizações populares ele liderou um forte movimento social contra a política do Agronegócio na região, o que resultou na criação da FDA – Frente de Defesa da Amazônia .

Junto a outros líderes, Pe. Edilberto denunciou no Ministério Público Federal a ilegalidade da construção do Porto Graneleiro da Cargil na cidade de Santarém que, diga-se de passagem, foi construído sem Estudo e Relatório de Impacto Ambiental (EIA/RIMA). A instalação desse porto causou uma série de conseqüências negativas para a produção familiar na região, gerando uma tensão no campo mais acentuada do que já ocorria antes (ver anexo A).

Em todo o Oeste do Pará se fez crer através da mídia bem paga pelo Governo, que a monocultura do grão de soja iria impulsionar o desenvolvimento regional. O que na verdade, mais do que progresso econômico, fez apenas intensificar o processo de desmatamento da floresta, a migração de pessoas do sul do país para a região e o alto índice de êxodo rural.

Nesse cenário, a figura do Pe. Edilberto se destacou porque, além de militante social, ele também é, há oito anos, diretor da rádio católica de maior audiência da região, a Rádio Emissora de Educação Rural de Santarém. Com isto, o missionário obteve amplo espaço na mídia para propagar suas denúncias e seus questionamentos, seja a respeito da violência com que a política do agronegócio se instalara na região, seja a respeito da grilagem de terras feita por fazendeiros, madeireiros, etc. Milhares de ouvintes ouvem todos os dias seus editoriais no Jornal da Manhã (ver anexo C), bem como os programas de Rural Debate que conduz (ver anexo D).

Por causa da grande audiência da emissora nas comunidades rurais, na zona urbana de Santarém e mesmo nos municípios circunvizinhos, a voz do missionário começou a incomodar alguns grupos empresariais da região ligados, direta ou indiretamente, ao agronegócio. Pe. Edilberto foi ameaçado de morte várias vezes e a associação dos comerciários da cidade pressionou o bispo da Diocese para que o retirasse da direção da emissora, sob pena de se fazer um boicote para não mais anunciarem na rádio que dirige.

Pe. Edilberto não saiu da direção da emissora. Continua com o seu engajamento e luta social pela defesa do meio ambiente e da cultura do povo amazônida. Ao assumir a direção da emissora, procurou democraticamente com os seus funcionários discutir os princípios que norteariam a função social da empresa para a região. Realiza muitos esforços para tornar a emissora auto-sustentável, buscando apoio de empresas, realmente, comprometidas com o meio ambiente. E mesmo sendo diretor de uma emissora comercial, Pe. Edilberto é um grande incentivador de rádios comunitárias na região, defendendo a democratização da informação que também pode ser produzida pelos próprios comunitários.

Atualmente, a Rádio Rural de Santarém é sede da Rede de Notícias da Amazônia – RNA. Um projeto idealizado por este missionário, que tem como principal objetivo tecer uma rede de informações da Amazônia com notícias geradas e ouvidas pelos próprios amazônidas. O projeto tem apoio da Associação Latino Americana de Educação Radiofônica – ALER, e já reúne outras quatro emissoras dos Estados do Acre, Amazonas e Roraima.

De segunda a sexta, as 17h45, as emissoras entram em cadeia para transmitirem, via-satélite, o Jornal “Amazônia é Notícia”. O projeto está em fase experimental e já têm dado bons resultados, com notícias da Amazônia sendo produzidas na própria Amazônia. Emissoras de outras localidades e de outros Estados também manifestam interesse em participar da RNA.

Pe. Edilberto é um visionário que não dissocia os processos comunicativos dos educativos. Afirma que quando o assunto é desenvolvimento para a Amazônia, há sempre um conflito, falta de comunicação, entre a ambição do capitalismo e a cultura do povo amazônida, que precisa ser respeitada. Critica, acima de tudo, as atitudes de empresas multinacionais, ou mesmo nacionais, que usam do discurso do desenvolvimento “sustentável” para explorar os recursos naturais da Amazônia, sem considerar o modo de vida do Amazônida.

Para ele, o mercado internacional acaba sendo o maior destruidor da floresta porque incentiva a sua exploração sem precedentes, com vistas apenas ao lucro cada vez maior. Segundo ele, é possível investir na capacitação tecnológica da população nativa para que esta explore os seus recursos.

Certamente, o maior empreendimento deste Filho da Amazônia está nas ações pontuais e processuais que articula com vistas à conscientização do maior número de pessoas possível. Não é nenhum cientista de renome, com diplomas para serem pendurados, mas tem uma história de vida que prova o quanto tem contribuído para a preservação e valorização da cultura amazônica e do meio ambiente amazônico, do qual também depende o futuro do Brasil e de toda a humanidade.



Texto: César Sousa

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