Vai chover chuva de vento.
Já estou sentindo um cheiro d\'água,
que vem do céu cinzento.
As formigas lavadeiras cruzam o quintal
em filas compridas de correição.
Minhocas brotam à flor da terra.
- Eh aguão!...
A chuva vai vir da banda da serra,
porque o joão-de-barro abriu a sua porta
virada para o sul.
As sementinhas do meloso seco
devem estar lançando na poeira.
Eu não ouvi o primeiro trovão,
mas o zebu está escutando,
com a cabeça encostada no chão.
Já estou sentindo um cheiro d\'água,
que vem do céu cinzento.
As formigas lavadeiras cruzam o quintal
em filas compridas de correição.
Minhocas brotam à flor da terra.
- Eh aguão!...
A chuva vai vir da banda da serra,
porque o joão-de-barro abriu a sua porta
virada para o sul.
As sementinhas do meloso seco
devem estar lançando na poeira.
Eu não ouvi o primeiro trovão,
mas o zebu está escutando,
com a cabeça encostada no chão.
Três urubus passam no alto,
em vôo lento,
em reta longa.
Vão para as lapas dos lajedos.
"Vai fazer tua casa, Urubu!...
Tempo de chuva aí vem, Urubu!..."
em vôo lento,
em reta longa.
Vão para as lapas dos lajedos.
"Vai fazer tua casa, Urubu!...
Tempo de chuva aí vem, Urubu!..."
Já deve estar chovendo nas cabeceiras da serra,
porque o ribeirão engrossa, cor de terra.
Vai chover chuva de vento.
Os bois vêm correndo, pasto abaixo,
procurando as árvores do capão.
porque o ribeirão engrossa, cor de terra.
Vai chover chuva de vento.
Os bois vêm correndo, pasto abaixo,
procurando as árvores do capão.
Vai invernar...
Eu hoje amanheci alegre,
querendo cantar...
O vento já chegou nas casuarinas,
e o sapo saiu de debaixo da laje
para um buraco no meio do pátio
onde vai se encher uma lagoa.
- Eh aguão!...
- Olá, José, arreia meu Cabiúna,
liso do casco à testa,
preto do rabo à crina,
que eu vou sair pelo cerrado afora,
a galopar, com a chuva me correndo atrás...
Ela já vem, branquinha, cheirando a água nova,
e a serra está clarinha, neblinando...
A chuva vem rolando, vem chiando,
e o vento assoviando
- Galopa, Cabiúna, que a água vem vindo,
e as sementinhas do meloso seco estão dançando...
Eu hoje amanheci alegre,
querendo cantar...
O vento já chegou nas casuarinas,
e o sapo saiu de debaixo da laje
para um buraco no meio do pátio
onde vai se encher uma lagoa.
- Eh aguão!...
- Olá, José, arreia meu Cabiúna,
liso do casco à testa,
preto do rabo à crina,
que eu vou sair pelo cerrado afora,
a galopar, com a chuva me correndo atrás...
Ela já vem, branquinha, cheirando a água nova,
e a serra está clarinha, neblinando...
A chuva vem rolando, vem chiando,
e o vento assoviando
- Galopa, Cabiúna, que a água vem vindo,
e as sementinhas do meloso seco estão dançando...
Guimarães Rosa (1908-1967)
* O poema maravilhoso me foi enviado pelo poeta Jason Carneiro, através do projeto Quarta com Poesia. Quem estiver interessando em conhecer poemas do Jason é só acessar o Cais do Silêncio e viajar na arte da poética que ele expressa nas entrelinhas de cada poema qie escreve... uma delícia!!!
Passe lá...
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