Nita Tuxá - Pscicóloga |
Caro Alfredo,
Quero parabeniza-lo pela brilhante escrita e pela reflexãocritica que provocou diferente opiniões, levando as pessoas a
refletirem…
Eu me chamo
Ediliaise, ou melhor Nita Tuxá. Sou indígena da etnia Tuxá de Rodelas/Ba e gostaria muito de contribuir com essa discussão
apresentando o meu Olhar: Nós indígenas e vocês.
Vou começar partindo
do pensamento do grande Paulo Freire que nos diz: “Não há saber mais ou saber menos: há saberes diferentes”. É
assim que gostaria quefosse compreendida a cultura indígena e a não-indígena em
seu processorelacional. Eu costumo dizer que nós indígenas estamos navegando por
rios e territórios desconhecidos na luta pela sustentabilidade das nossas
comunidades e da nossa
cultura. Diariamente travamos batalhas com o “mundo do
não-índio” e precisamente com o nosso universo.
Eu cresci em uma comunidade projetada pela Companhia
hidroelétrica do São Francisco (CHESF), pois em nome do “progresso” a aldeia dos
meus, foi inundada para levar energia ao Nordeste. Nesse novo ambiente,
alimentei a minha identidade étnica com as histórias dos meus pais, avós e
lideres comunitário, por vezes, imaginava como devia ser prazeroso viver em um
ambiente aonde havia sinergia e respeito.
Por outro lado, não posso ser incongruente alegando que o nosso novo “habitat” não nos trouxe benefícios, afinal, temos uma estrutura com saneamento, casas de concreto, água encanada, posto de saúde, entre outros ganhos. Todavia, compreendo que assim como a história de tantos outros parentes (indígenas) o meu povo sofreu imposições. Nós sabemos amigos, que tudo começou no período colonial com a catequese “civilizatória”, em um jogo religioso e político que fizeram dos meus ancestrais sujeitos humilhados por terem crenças, costumes e traços físicos tão peculiares. Desde então, meus caros, não fomos os mesmos, pois o etnocentrismo que nos apresentaram nos causou crise de identidade.
Sim, nós indígenas temos crises de identidade e posso falar por mim como jovem, sabe o que é ter que viver, ou melhor, sobreviver como se o seu existir fosse uma ameaça, um afronto, uma aberração. Notem que me apresentei com dois nomes, um nome “civil” e um nome indígena, porque já não se registra nomes indígenas como outrora e também porque não é viável me apresentar profissionalmente como Nita Tuxá, pois as pessoas me fariam coagir com expressões faciais de estranheza, e poucos gostam do “estranho” (isso já me ocorreu várias vezes). Sou formada em Psicologia, para estudar tive que sair da minha comunidade e me inserir em um lugar mais desenvolvido e experimentar o universo acadêmico.
Por outro lado, não posso ser incongruente alegando que o nosso novo “habitat” não nos trouxe benefícios, afinal, temos uma estrutura com saneamento, casas de concreto, água encanada, posto de saúde, entre outros ganhos. Todavia, compreendo que assim como a história de tantos outros parentes (indígenas) o meu povo sofreu imposições. Nós sabemos amigos, que tudo começou no período colonial com a catequese “civilizatória”, em um jogo religioso e político que fizeram dos meus ancestrais sujeitos humilhados por terem crenças, costumes e traços físicos tão peculiares. Desde então, meus caros, não fomos os mesmos, pois o etnocentrismo que nos apresentaram nos causou crise de identidade.
Sim, nós indígenas temos crises de identidade e posso falar por mim como jovem, sabe o que é ter que viver, ou melhor, sobreviver como se o seu existir fosse uma ameaça, um afronto, uma aberração. Notem que me apresentei com dois nomes, um nome “civil” e um nome indígena, porque já não se registra nomes indígenas como outrora e também porque não é viável me apresentar profissionalmente como Nita Tuxá, pois as pessoas me fariam coagir com expressões faciais de estranheza, e poucos gostam do “estranho” (isso já me ocorreu várias vezes). Sou formada em Psicologia, para estudar tive que sair da minha comunidade e me inserir em um lugar mais desenvolvido e experimentar o universo acadêmico.
Durante esse período observei que não importa como nós
indígenas venhamos a nos comportar, pois seremos sempre discriminados, se somos
“atrasados” deveríamos voltar pra mata e não tomar lugar de quem realmente merece
estudar ( criticam as cotas), se somos “instruídos” deixamos de ser indígenas,
afinal somos inteligentes e vestimos roupas. Pensem, no quanto é difícil
existir enquanto
indígena; é como se tivéssemos que corresponder às
expectativas do Outro, justo daquele Outro que se quer nos ver, apenas nos leu nos livros
e criou o seu Imaginário.
O Sartre tem um
pensamento que carrego comigo: “Não importa o que fizeram demim, o que importa é o que eu faço com o que fizeram de
mim”. Eu tenho orgulho ao
dizer que nós indígenas saímos dos livros, estamos nas cidades, nas universidades, na mídia pra dizer que existimos
e que ao contrario do que muitos pensam, nós somos brasileiros e indivíduos de
desejos e direitos.
Talvez, em uma analogia, poderíamos enxergar nós indígenas
como uma adolescente que se rebela por ter dores existências, pois foi cruelmente
violentado fisicamente e psicologicamente na sua infância. Hoje, anseia
se tornar um adulto com autonomia, sem tutela, quer gerir e fazer as suas
próprias escolhas. E isso parece ser um grande problema, sabem por quê? Porque estamos
nos “mostrando”, hoje vocês nos Vêem, talvez não como gostariam, mas já não
podem negar o fato de
que existimos, persistimos e resistimos. O etnocentrismo do
não-índio provocou o que temos de mais valioso: a nossa força e amor ao que
somos! Lutaremos dia-a-dia para que sejamos tratados com respeito e tenhamos
direito a Viver… Por fim, “que a terra
seja o índio e o que índio tenha terra”!
Luz e paz de Tupã!!!
Nita Tuxá
Edilaise Santos Vieira ( Nita Tuxá)
Psicóloga Clinica no
NOPP ( Núcleo de Orientação Profissional e Psicoterapias)
CRP 20/03933