Estamos envelhecendo, estamos
envelhecendo, estamos envelhecendo, só ouço isto. No táxi, no trânsito, no
banco, só me chamam de senhora. E as amigas falam "estamos
envelhecendo", como quem diz "estamos apodrecendo". Não estou
achando envelhecer esse horror todo. Até agora. Mas a pressão é grande. Então,
outro dia, divertidamente, fiz uma analogia.
O queijo Gorgonzola é um queijo
de que a maioria das pessoas que eu conheço gosta. Gosta na salada, no pão, com
vinho tinto, vinho branco, é um queijo delicioso, de sabor e aroma peculiares,
uma invenção italiana, tem status de iguaria com seu sabor sofisticadíssimo,
incomparável, vende aos quilos nos supermercados do Leblon, é caro e é podre. É
um queijo contaminado por fungos, só fica bom depois que mofa. É um queijo
podre de chique. Para ficar gostoso tem que estar no ponto certo da
deterioração da matéria. O que me possibilita afirmar que não é pelo fato de
estar envelhecendo ou apodrecendo ou mofando que devo ser desvalorizada.
Saibam: vou envelhecer até o ponto certo, como o Gorgonzola. Se Deus quiser,
morrerei no ponto G da deterioração da matéria.
Estou me tornando uma iguaria.
Com vinho tinto sou deliciosa. Aos (46) sou uma mulher para paladares
sofisticados. Não sou mais um queijo Minas Frescal, não sou mais uma Ricota,
não sou um queijo amarelo qualquer para um lanche sem compromisso. Não sou para
qualquer um, nem para qualquer um dou bola, agora tenho status, sou um queijo
Gorgonzola.
Clarice Niskier
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Agradeço sua visita, com breve retorno!! Seu comentário vem somar mais versos em minhas inspirações... grande abraço. Se quiser pode escrever diretamente para o meu email: socorrosantarem@gmail.com