O que mais falta no Natal é reflexão. Se parássemos para
pensar um pouco, perceberíamos melhor o seu significado. E nos daríamos conta
de quanto o mistério da encarnação ilumina a humanidade. De tal modo que o
nascimento do Menino Jesus, em Belém de Judá, confere sentido a “todo homem que
vem a este mundo”.
O Evangelho observa, com perspicácia, que a primeira reação
de Maria, diante da proposta do anjo Gabriel, foi pensar. “Maria começou a
pensar qual seria o significado daquela saudação” (Lc 1,29).
Começar a pensar é, portanto, a primeira recomendação do
Natal.
Também José fez a mesma coisa. Ele também se pôs a pensar.
Enquanto mergulhava nos seus pensamentos, pôde compreender a missão que o
Senhor lhe confiava. Sem pensar, não teria se colocado em sintonia com a
vontade de Deus, que o convidava a assumir uma missão que empenharia por
inteiro sua vida, e lhe daria uma dignidade inesperada.
Depois do nascimento de Jesus, Maria continuou a pensar.
“Maria guardava todas estas coisas, meditando-as no seu coração.” (Lc 2,19).
A encarnação do Filho de Deus é um fato que transcende as
circunstâncias históricas em que ela aconteceu. Seu significado vai além da
singularidade das pessoas diretamente envolvidas no cenário histórico do
acontecimento de Belém.
Como Maria, também somos convidados a continuar pensando no
seu significado. Para dar-nos conta de
como o mistério de Deus, que assume a natureza humana, repercute em toda a
humanidade. De tal modo que toda criança, em qualquer época, em qualquer lugar,
em qualquer povo, em qualquer cultura, de qualquer raça, todo nascimento, todos
os seres humanos, são agora assumidos por Deus, e carregam uma dignidade nova,
que lhes é conferida pelo fato de Deus ter assumido nossa condição humana, pela
encarnação do seu Filho.
As circunstâncias históricas do nascimento de Jesus são
contingentes e transitórias. O fato fundamental é o mistério de encarnação,
cujo significado permanece, desafiando nossa inteligência.
E´ preciso resgatar o
alcance universal do mistério da encarnação. E relativizar as contingências
históricas em que ele se deu. Para não aprisioná-lo dentro destas
circunstâncias, impedindo que ele possa ser apropriado por todos os povos, em
todos os tempos.
O fato do Filho de Deus ter nascido em determinado país e em
determinado povo, não o torna propriedade exclusiva de tal povo ou de tal
lugar. O próprio Jesus fez questão de se desvencilhar das amarras de Nazaré e
de seus familiares, para se sentir à vontade entre aqueles que acolhiam a
mensagem transcendente que ele anunciava.
Ele mesmo, quando adulto, não deu importância a Belém, o
lugar onde tinha nascido. Ficava tão perto de Jerusalém, bem que podia ter
passado por lá, e mostrado aos discípulos onde tinha nascido! A contrário, preferiu atravessar as fronteiras ao norte,
sinalizando a destinação universal do seu Evangelho.
Depois de dois mil anos, o Natal de Jesus nos faz procurar
sua repercussão nem tanto na extensão geográfica de sua Igreja. Mas na
profundidade do compromisso de Deus com a humanidade, simbolizado pela
encarnação do seu Filho.
Pensando bem, os fatos de Belém ainda nos convidam à
meditação. Para entendermos como a encarnação de Deus, acontecida plenamente em
Jesus, repercute em todos os nascidos, não só em Belém, mas em Pequim também. E
em toda criatura humana, em qualquer época e em qualquer lugar deste mundo.
Dom Luiz Demétrio Valentini
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